Organizamos um banco bibliográfico objetivando que pessoas interessadas tenham acesso a produções academias, resoluções e legislações sobre a população em situação de rua. Nossa intenção é ser um banco colaborativo, onde através do “fale conosco” outras pessoas possam indicar outras leituras e produções sobre o tema.
Ao realizarmos o levantamento bibliográfico para a construção deste banco analisamos os resultados das buscas nos bancos de dados Scielo e Lilacs e percebemos uma ausência de trabalhos que relacionem os descritores “população em situação de rua” e “população negra”, concluindo não ser consenso entre os produtores de conhecimento científico acadêmico que a maioria da população em situação de rua é negra.
Usando um recorte como exemplo, no levantamento de março de 2020 foram encontrados na Lilacs 382 publicações com “população em situação de rua” como descritor principal. Ao cruzar os descritores encontramos 20 com “atenção primária em saúde”; 18 “acesso aos serviços de saúde”; 4 “infecções por HIV”. Quando alteramos o descritor principal para “população negra” encontramos 1.418 publicações, realizando o mesmo cruzamento entre os descritores encontramos 19 com “acesso aos serviços de saúde”; 9 com “atenção primária em saúde”; 7 com “infecção por HIV”. Porém, quando cruzamos os dois descritores, “população em situação de rua” e “população negra”, aparecem apenas 2 publicações, 1 delas traz “pessoa em situação de rua” como assunto principal.
Constatar a falta de correlação entre estes descritores nos causou um pouco de surpresa, uma vez que são populações atingidas pelas mesmas circunstâncias, mas não são reconhecidas como os mesmos sujeitos. É nesta lacuna que trazemos a conclusão da nossa análise: a comunidade acadêmica não vê a correlação entre essas populações, a invisibilização sobre as pessoas em situação de rua e sua cor como apenas mais um dos efeitos do racismo. O racismo estrutural constrói a cor da população em situação de rua, e produz também seu apagamento.
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