Em fevereiro de 2022, teve início o trabalho etnográfico da pesquisa, motivado pela avaliação da equipe da Estratégia Consultório na Rua (Cnar), na medida em que estes ponderaram que para além da Oficina, onde o tema do racismo é central na discussão, seria também de fundamental importância que a equipe de pesquisa pudesse participar das ações cotidianas do processo de trabalho dos profissionais de saúde nas ruas e cracolândias, no sentido de perceber e vivenciar as dinâmicas excludentes e racistas pelas quais a população negra é submetida sistematicamente.
E foi precisamente o diálogo com os profissionais e essa vivência nas ruas que nos fez perceber a magnitude das dinâmicas de exclusão e precarização da vida que recaem especialmente sobre a mulher negra em situação de rua
Essa percepção produziu uma importante virada na concepção inicial da Oficina, dado que passamos a focalizá-la para as mulheres negras, numa mirada interseccional. Esse acompanhamento acontecia semanalmente por uma de nós, incluindo idas aos territórios; consultas médicas dentro e fora do CnaR; acompanhamento das ações de referência em hospitais; assim como distribuição de refeições.
Fonte: Registro da equipe e parceiros Cnar, 2022.
A participação e a contribuição dos três membros da equipe do Consultório na Rua de Manguinhos, (a saber: Anderson Costa, Daniel Souza e Marcelo Soares) foi essencial e de extrema importância para essa parte da pesquisa, pois foi a partir da vivência e da prática profissional deles no território e com os usuários do serviço que tivemos acesso a uma parte da realidade dessas pessoas que vivem em situação de rua, assim como a sua relação com os serviços de saúde, com os funcionários e seus acessos aos serviços.
Sendo assim, destacamos uma grande inflexão positiva no projeto, correspondendo a inclusão de toda uma dimensão etnográfica na pesquisa, não prevista anteriormente, que foi a efetiva participação de pesquisadoras no cotidiano do trabalho da Equipe de Consultório na Rua de Manguinhos, vinculada a Clínica da Família Victor Valla, cujos profissionais negros fazem parte da equipe ampliada do Projeto. Esse trabalho etnográfico/vivencial foi de fundamental importância para a realização de uma das principais atividades da pesquisa: a realização da Oficina “Os sentidos do estar na rua e o racismo sobre a mulher negra”.
Fonte: Fonte: Relatório Anual de Pesquisa Rede PMA APS. Projeto: Marcador social de raça, acesso e cuidado à população em situação de rua na APS – em busca de formas colaborativas de produção de ‘saber-intervenção’ contra o racismo, 2022.